Outro dia, eu estava pesquisando na internet livros sobre biografias de pessoas com diabetes e não achei muita coisa. Pra falar a verdade, só achei um livro: A História de um Médico Diabético, do Dr. Rogério de Oliveira, falecido em 2010. Encontrei a edição em um site de sebo online, já que o livro não está mais à venda nas livrarias. Pelo preço de apenas R$2, não pensei duas vezes pra fechar a compra, rs.
O livro foi escrito pelo próprio Rogério em 1987 e conta as memórias de quem viveu confortavelmente e plenamente mais de 50 anos com o diabetes. De início, achei que encontraria muitas informações sobre a doença, dilemas, conflitos, angústias, e tudo mais que permeia o universo de quem convive com o diabetes. Para a minha surpresa, o livro conta sim, sobre como ele lidou com a doença, mas o foco principal são as suas memórias e sua história de vida. Rogério viveu, amou, casou, se formou, teve filhos e morreu idoso. Ou seja, um homem de carne e osso como qualquer um. Nas palavras de Tizuka Yamasaki, que escreve a contra-capa, o livro é o testemunho de que vale a pena viver. De frente.
Rogério nasceu em 1932, onze anos após a insulina ser inventada, e ficou diabético aos 3 anos de idade. O início foi muito complicado já que por medo os pais não o deixavam ir à escola, era submetido a uma dieta muito restritiva e nem podia brincar com outras crianças, porque temiam que ele se machucasse.
O cenário muda após uma cetoacidose causada por um médico em São Paulo que prometeu aos pais desesperados de Rogério a tal cura do diabetes. Depois disso, o jovem é reinserido à sociedade e passa ter uma infância tranquila e feliz, inclusive ele mesmo aplicava a insulina já por volta dos 7 anos de idade!
Uma das coisas interessantes contadas por Rogério são os seus episódios de hipoglicemia que na maioria das vezes aconteciam quando ele estava mais carente de afeto. Ou seja, falta de açúcar = falta de afeto. Não que isso seja uma regra, óbvio que as hipoglicemias são variadas e podem ser por conta da alimentação, insulina, etc. Mas segundo Rogério, suas hipos aconteciam com mais frequência quando ele estava carente de atenção e afeto. Interessante, né? Eu sempre fui adepta de relacionar pensamentos e o poder da mente com as nossas doenças físicas. Acho que vale uma reflexão: quais são as situações que mais temos hipos e hipers? Quais são os nossos sentimentos que precedem aqueles momentos de descontrole? Faça o exercício reflexivo, e use o bom senso (é, claro!).
Rogério destaca ao longo do livro que uma das ferramentas mais importantes para o tratamento do paciente é a educação, mas se não houver modificação no comportamento e uma atitude positiva em relação à doença, o controle vai ser bem difícil. Ou seja, se ame e aceite a doença, só assim poderá ter um bom controle.
O que mais achei legal no livro é como ele controlava a glicemia. Já parou pra pensar que há mais de 20 anos não tínhamos os glicosímetros digitais que hoje desfrutamos? E antes das fitas de cor, que consistia em pingar o sangue e esperar pra ver qual cor ia dar e seu respectivo valor aproximado, os pacientes faziam teste pela urina? Mas isso lá na década de 50 também não existia.
A solução que o autor encontrou foi pesquisar a glicosúria na urina, mas para isso precisava de um aparato digno de laboratório de ciências! Para todos os lugares que ia, ele levava um vidro com reativo de Benedict e um tubo de ensaio. Para pesquisar a glicosúria, tinha de levar a mistura do reativo com a urina ao fogo, ou seja, ele embebia uma pequena bola de algodão com álcool para poder esquentar aquele tubo de ensaio e fazer a pesquisa. Se desse uma cor esverdeada indicava a presença de pouco açúcar e se fosse uma cor alaranjada indicava altos índices de açúcar. Que trabalhão, né? E ele fazia isso toda vez que urinava…
Como uma forma de poder entender melhor a doença, Rogério decide fazer medicina e se especializa em endocrinologia. Sua carreira médica acompanhou o sucesso do seu controle do diabetes. Rogério participou da primeira equipe do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE), além de ter sido o criador das colônias de férias para crianças diabéticas.
Em 1985, ele ganhou a medalha da Clínica Joslin, em Boston, nos Estados Unidos por mais de 50 anos de diabetes sem complicações. Foi o primeiro paciente de língua não inglesa a ganhar o prêmio. O sucesso? O segredo do controle?
Dr. Rogério nos explica: “O início da felicidade está na aceitação de nosso destino. Só a partir daí é que podemos começar a mudar o que é possível ser mudado, não alimentando fantasias, não forcejando por mudar o imutável. Assim, se fiquei diabético, afecção crônica que vai me acompanhar por toda a vida, só passei a ser feliz quando aceitei o fato e me dispus a conviver com o diabetes. A partir daí é que pude mudar muito e criar o meu mundo”.
Vamos juntos criar o nosso mundo?
Espero que você possa desfrutá-lo com muito amor, conhecimento, tenacidade e força de vontade.
A vida é da cor que a gente a pinta. 😉
Um beijo!
2 comentários
Gostaria de saber como conseguir o livro. Este ou o outro convivendo com diabetes sem problemas, também do Dr. Rogério. Fiz uma matéria com ele em 87 e gostaria de indicar este livro para um amigo
Oi Carmen! Você encontra em sebos. Eu comprei no site estante virtual 😉 Beijos!