Tenho altos e baixos como todo mundo. Como todo diabético. Mês passado comprei uma pulseira de identificação do diabetes. Em letras grandes, a palavra DIABÉTICA pulsa e pulsa forte aos meus olhos. Senti um pouco de vergonha de sair na rua com tal apetrecho. Não por ter vergonha da minha condição, mas porque ainda sinto olhares de pena em relação à doença.
A vergonha deu lugar ao sentimento de que não querer me esconder. Quero levar informação e orgulho de lutar por viver. Além de ser uma atitude preventiva que pode me ajudar em casos de hipoglicemia. Só quem tem crises de hipo severas, com taxas abaixo de 60 sabe como é. Coração pulsante, cérebro confuso, boca seca, língua mole, mãos tremulas sem decisão. Passos desorientados. Impotência. Quando fiquei diabética, conheci inúmeras histórias de pessoas que desmaiaram ou que tiveram casos tão severos de hipoglicemia que convulsionaram e entraram em coma.
Além do mal estar, ouvi de muitos, histórias de total invisibilidade e despreparo da sociedade ao lidar com o diabético e com pessoas com doenças das mais diversas. Amigos relataram que andavam na rua desorientados, por conta da baixa taxa de açúcar no sangue, e que ao serem confundidos com bêbados não obtiveram nenhuma ajuda. Isso me dá uma tristeza. Aliás, sempre tive medo da invisibilidade social. E de passar mal na rua e não ser socorrida por ninguém.
Às vezes, ando pelas ruas, no trem, no ônibus, e olho para aqueles rostos e me pergunto: será que você me ajudaria se eu começasse a ficar pálida? Será que você, senhora, perceberia que eu não estou bêbada e sim com hipoglicemia? Será que eles saberiam me dar açúcar? Será que eles iam ver a pulseira no meu pulso e iam deduzir que é hipoglicemia? Será que eles seriam humanos, me dariam um abraço forte de segurança e me ajudariam a ingerir algo com açúcar? E que com calor nos olhos me olhariam com força e transmitiriam a mensagem “tudo vai ficar bem é só uma hipo”? Sim, pode parecer dramático demais. Mas quem é que não tem momentos de fraqueza emocional? São esses momentos que nos fortificam e nos fazem mais fortes.
Hoje, tive essa hipo antes do almoço. Sem desespero, apesar das mãos tão trêmulas que mal conseguia segurar alguma coisa, ingeri açúcar. E passou. Porque sempre após a tempestade tem o arco-íris. O açúcar que tanto pode nos fazer mal, nos salva nas dificuldades. Que ironia, não é mesmo? Mas tudo, tudo acontece para o nosso bem. Lição de hoje: paciência, amor e perseverança. É preciso saber lidar com a insegurança da vida.